sábado, 28 de fevereiro de 2009

A imponente voz de Aline.

As paredes eram beges. A sala era pequena e uma das paredes tinha vidros. Era possível saber o que as quatro pessoas faziam dentro da sala. No canto, os meninos ensaiavam toques em uma máquina de medição com a leveza de passos de ballet. Havia um certo silêncio. O chão semi-limpo mostravam marcas de sapatos. De vez em quando o ar condicionado avisava que estava vivo. Até então isso só era percepítivel pela temperatura de 20ºC.

Havia quadros e lousas com gráficos preto e brancos apontando aquilo que deveriam. Fazendo nascer controles. Apotando coisas, condenando isso ou aquilo sem dizer uma palavra. Apesar do silêncio ora ou outra um dos integrantes cortava a calmaria contando fatos e assuntos corriqueiros - pra não dizer outra coisa. O clima semi-corporativo da sala se resumia em tédio. Era preciso animá-la.

Um dia uma inesperada visita. Ela procurava um tal de rapaz que liberava aprovações no sistema para que o financeiro pudesse concluir o que tivesse que ser feito. Era esse o nome dele. Mas justo naquele momento ele não estava. Mesmo assim ela resolveu esperar.

Tinha a pele clara. Era magra e possuía lábio finos. Era decidida no que queria. Estava ali pra trabalhar e não pra outra coisa. Uma vez que teve que sair de sua sala então que fosse pra resolver o assunto. Às vezes o rapaz a observava em suas idas até o café. Mas isso bem depois da visita.

O rapaz chegou, sentou em seu lugar e olhou pra Aline. Observou tudo o que já foi descrito acima e esperou ela falar. Achou até que tivesse que arrancá-la as palavras, como acontecia com outras pessoas. De repente... O susto:

- Vc que é o rapaz da... ?
- Sim.
- Estou esperando você liberar os...
- Sim.

Era tudo o que ele podia falar. Durante as palavras de Aline algo aconteceu. Algo que só ele poderia explicar.

As paredes sorriram. Os gráficos ganharam cor. A máquina de medição pulava enquanto o aparelho de ar condicionado trabalhava com força pra manter a temperatura da sala - o que parecia inútil. Da boca de Aline saíam claves de sol. Os papéis ensaiavam vôo. A alegria virou música e sala triste agora era um arco-íris. Uma obra surreal. Um ensaio de carnaval sem regras. A imponente voz de Aline tinha esse poder sobre a sala. Poder que só o rapaz notara. Quando ela se calou as coisas esfriaram e tudo voltou a ser cinza. Já em sua partida a temperatura caiu pra 20ºC. Tudo voltara o normal.

Depois da visita o rapaz decidiu atrasar o seu trabalho todos os dias. Porque todos os dias ele gostava de ver algo a mais do que a alegria da sala.