terça-feira, 21 de abril de 2009

Foi o vento...

Foi o vento...
Foi ele que me fez ligar, me fez esperar, me fez aceitar e me fez arriscar. Naquela noite eu não pensava em muitas coisas, não tinha nenhuma pretensão. Quando eu fui perceber já não era a primeira noite. E em uma delas ela chorou. Se sentiu confortável pra contar sobre o seu drama. Sobre a sua vida, os seus problemas. E aí eu também já estava envolvido. Antes disso Bruna estava parada, seus cabelos voavam sobre a noite. Seu sorriso, que a muito não vinha, clareava, encantava, mas não me tirava o frio que batia inquieto, que antecipava o dia e confirmava a madrugada. Existia algo que agia nessa madrugada corroendo os metais e assobiando a cada curva de seu trajeto. Que trazia uma certa beleza na figura noturna de um velho trem abandonado. Na minha mente, entre todas as perguntas a que ressoava e que transbordava pensamentos era aquela que mostrava senão outra coisa a não ser a alma feminina. Ela já sem lágrimas me perguntava o porquê. No que eu insistia como se fosse uma fuga.
Foi o vento...

sábado, 18 de abril de 2009

Chicotes

Ele se perguntava, às vezes, por que? Ele via as pessoas se amontoando todos os dias enquanto o sol ameaçava ainda mostrar sua força. Pessoas indo atrás de coisas que certamente não queriam. Vivendo a vida que não sonharam. Alguns nem mais sonhavam. E ele se perguntava quem era o culpado? Quem tinha algo a ver com isso? Um abandono, um descaso. Seria uma pessoa ou seriam várias pessoas? Por que as coisas andaram por esse caminho? Enquanto homens chicoteavam outros na entrada do trem, uma senhora rezava. E chorava incomodando os muitos que estavam no vagão. Ele queria que tudo isso fosse uma mentira. Não se imaginava parte de nada. Nem de uma história. A única coisa que ele queria era entender o porquê de toda essa merda espalhada. No ápice do incidente a senhora deixou cair seu terço. Quando a porta abriu as pessoas enquanto saíam pisavam e chutavam o terço sem saber. Ao tocar na plataforma ele pisou no mesmo terço e o partiu em dois. Ele se perguntou agora se algum Deus tinha algo a ver com isso. Não imaginava que Deus pudesse ter decidido a decorrência da cena. Ele já não conseguia acreditar em mais nada. Somente em chicotes que estalavam no vagão.

domingo, 12 de abril de 2009

A cor da noite

Se eu tivesse que apostar apostaria no vermelho. Naquela noite a cor que prevaleceria seria a que captasse melhor o pensamento feminino. A música era o rock e as garotas cansaram do esmalte preto. Algumas ainda optavam pelo café só pra disfarçar a rebeldia. Mas era o vermelho que imperava nas mãos das mulheres. Era uma febre. Nos lábios de Talita o vermelho rescindia qualquer dúvida sobre a evidência da cor. Embora os lábios ficassem bem com qualquer cor que homem fosse capaz de criar. Essa predileção podia ter algo a ver com a Lua ou com um certo período diziam os leigos. Eu só assistia aquilo que era uma coincidência de cores. Mesmo assim foi possível notar as vozes espalhadas que completavam o local escuro. Um armagedon espalhava música sem saber das cores. Sem saber que alguém observava tudo. Sem saber que o vermelho era a cor da noite...