quinta-feira, 29 de julho de 2010

Saudades...

Ele sentia falta do samba. Da noite. Da madrugada. Da mulata. Da vida sofrida. Da estrada. Da batida do pandeiro. C a d e n c i a d a. Da leveza da voz. Sentia falta do sono que levemente lhe dava quando tocavam o seu rosto. Sentia da falta da fala. Da rua. Da pausa. Do cheiro de tantos perfumes. Da cerveja gelada. Sentia falta da vida. Da falta. Do violão que ninguém ouve. Das palavras que ninguém vê. Fácil entendê-lo. Sentia falta... Que o "da Viola" o perdoe. Sentia falta do samba... Sentia falta...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Belo Monte: choro de Ianê

Sobre os peixes que avistara nada tinha a declarar. As discussões que o possível desastre trouxera deixava claro que ninguém iria se entregar. Sabia que mais cedo ou mais tarde o "homem-branco" com todo seu poder faria esvair o seu quintal. E com toda sua covarde força faria extinguir a paz daqueles que pra maioria já estavam extintos. Os benefícios dessa terra valiam mais do que qualquer costume antiquado, flautas primitivas e meios de subsistência ultrapassados. Quanto tempo se passara desde que se ouviu as primeiras conversas sobre o desastre? Talvez fosse tarde demais pra pensar no que ambição do homem é capaz de fazer. Sobre os peixes que avistara nada tinha a declarar. Quem saberia o futuro deles? E no futuro não haveria boas novas e nem mais villas-boas¹. Novos paulistas não ajudariam Pokaimone² assistindo Pokemon. E o Brasil, um país de tantas tribos que não indígenas, se enchera de filhos preocupados com seu próprio drama, alienados com suas tv's. O rio ainda corria e sobre os peixes que avistara nada tinha a declarar. Pois a sentença já estava declarada e a lágrima tímida manchava as cores pintadas em seu rosto. Era mais do que Belo Monte. Era por seu índio que não iria se entregar que Ianê chorava...

(1).Alusão aos irmãos Villas-Boas, importantes personagens na preservação da cultura indígena e principais idealizadores do Parque Indígena do Xingu.
(2).Pokaimone: uma das aldeias localizadas na região do Xingu.

Referências:
http://impressoesamazonicas.wordpress.com/2010/04/30/nos-indigenas-do-xingu-nao-queremos-belo-monte/
http://racismoambiental.net.br/2010/07/belo-monte-e-o-risco-de-extincao-dos-peixes-do-xingu-entrevista-especial-com-paulo-buckup/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_do_Xingu
http://pt.wikipedia.org/wiki/Irm%C3%A3os_Villas_B%C3%B4as
http://pt.wikipedia.org/wiki/Usina_Hidrel%C3%A9trica_de_Belo_Monte
http://racismoambiental.net.br/2009/12/comunicado-indigenas-xingu/

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A viagem de Camila

Almofadas, travesseiros, malas e chuveiro. Nada mais é seu. Do momento em que acorda ao momento em que desliga, suas antenas guardam imagens que mais tarde virão sem pedir licença. Na consciência, um dever cumprido. Na mala, milhares de lembranças. Ao dormir, ursinhos, coelhos, serpentinas e balas. Guarda-chuvas, iô-iôs e milhares de fadas. Ao despertar, já nem sabe mais qual a cor do seu verdadeiro travesseiro que um dia a abraçou depois de um pesadelo. Na viagem de Camila não há mais espaços pro passado. E o futuro... Almofadas, travesseiros, malas e chuveiro.