sábado, 14 de março de 2009

A vida nem é um filme...

Se eu fosse descrever esse dia (e é claro q eu quero), certamente o faria assim:

Ele chegou e as paredes já estavam riscadas. A chuva ameaçava cair caso não houvesse outra coisa pra fazer. Cumprimentou a moça, sentou, e conversaram sobre coisas que se conversam. O dia não era seu melhor dia. Aliás, pra nenhum dos dois eu assim posso dizer. Também, de fato as coisas mudaram. E elas sempre mudam...

Sua pele era muito clara e seus olhos de mangá não diziam outra coisa a não ser a confissão de sentir-se desconfortável. E ele não ficava atrás. Enquanto os desenhos passavam na televisão os dois conversavam sobre como as pessoas exigem coisas das outras. Como a relação humana, por coisas pequenas, pode se tornar extremamente complexa. Falaram sobre a crise, sobre o ensino estadual, sobre amenidades que ora ou outra mostravam que realmente as coisas mudam. Pessoas mudam. E a pegunta que eles queriam fazer um ao outro na verdade era o que realmente "permanece" com as mudanças. O que não muda? Será que só as lembranças sobreviveriam a isso tudo? Quem responderia as perguntas que nem tinham sido feitas? Os olhares dos dois de fato indicavam muitas coisas. Ele não quis bolo, refrigerante, nada que lhe fosse oferecido. Na verdade ele queria somente escolher as palavras certas, pra que tudo fosse certo e pra o que o dia passasse como outro comum.

Na hora da despedida ela o acompanhou até o portão. Um beijo no rosto, um abraço de lado e um olhar que já não fazia questão de dizer muita coisa, porque as horas passaram e não havia nada que encorajasse qualquer assunto mais íntimo. Durante o abraço a chuva apertou. Por um momento ele desejou que que a chuva não parasse e que o abraço não acabasse e que o tempo, sim, parasse e que o abraço de lado se encaixasse e que, se ainda restasse alguma coisa a dizer, que ela fosse dita sem palavras. É claro que nada disso aconteceu... Ao fechar o portão a chuva apertara de vez. Na cabeça dele só uma pergunta... Se a vida fosse um filme, o que ele aprenderia sobre tudo isso?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Petit Gateau

Ela cansou de correr na direção contrária. Iria mudar o cabelo, as roupas, as músicas, os amigos, o emprego, a cidade. Iria deixá-los em prol do auto-desenvolvimento. Não gastaria horas no msn e voltaria a ler. Antes da revolução ela decidiu que deveria comer o seu último Petit Gateau e agir.
Foi ao Fran's, pediu o que era de seu interesse e desmoronou ao olhar adiante. Ele era lindo. Moreno, olhos que estão entre o verde e o castanho. Alto, camiseta branca, um ar de juventude ensaiada e de experiência por vir. Era o princípe que faltava em sua vida. Se dedicou a não olhar e percebeu que por um encanto ele a observava. Ele se levantou, caminhou em sua direção e pediu permissão para sentar-se em sua mesa.
Tremendo, nem percebeu os lábios sujos de sorvete. Assim conversaram. O rapaz pagou as duas contas e finalizou qualquer nova possibilidade de revolução.
No outro dia, ninguém ligou... E ela voltou a achar que corria em direção contrária...

domingo, 8 de março de 2009

Domingo

Os ladrilhos da calçada, os postes decorativos. Nas guias das ruas, vasos com plantas e flores. Cadeiras, mesas redondas, pessoas com óculos de sol e a tarde de outono. Acima das mesas guarda-sóis com propagandas de cartão de crédito. Serviços de vallet e um certo ar de calmaria. Ou de elite. Ela apreciava tudo. As flores, o clima, o garçom simpático, o chá, o pouco movimento dos carros, seu jornal...

Ai, ai! Somos tão bairristas! Por que esperar outra coisa de um jornal? Na coluna social uma foto de uma amiga antiga. Como se a cena já não bastasse uma tristeza a invade. Ela bebe o chá com pouca pressa. Mais uma tarde e uma noite igual. O vento fresco toca sua face. Ela lembra de outros tempos, quando tinha companhia e era querida. Na verdade ainda era, mas poucos demonstravam. Também, sua idade avançara, os filhos casaram, se mudaram e só restavam lembranças que não a deixavam sair do apartamento.

Antes de anoitecer se levantou com a ajuda de sua bengala. Pagou a conta indicando que o "a mais" era do garçom. Sorriu e foi retribuída com o mesmo. Seu sorriso era sério mas sincero. Andou com uma certa dificulade e postura, mas andou. Dois quarteirões depois, cumprimentou o porteiro, pegou o elevador, entrou em casa e a meia luz se reencontrou com o livro que lutava pra acabar. Amanhã, um dos filhos viria buscá-la. O que estivesse menos ocupado. Restava então, ler, adormecer e esperar por mais um Domingo. Onde tudo seria novamente igual...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Conversa à toa

Não pude deixar de notar o diálogo das duas garotas à frente. Claro, estava observando algo que vai além das palavras, ou pra ser mais palpável, algo mais concreto. Eis o diálogo:

- Meu, você trouxe o bronzeador?
- Claro, quero ficar negra nesse verão...
- Falar em negro, que negro lindo o da frente, não?
- Nada. Pra mim, o negro mais lindo do mundo é o Denzel Washington...
- Quem? O do É o Tchan? (meus primeiros risos).
- Não, sua burra! Vai dizer que você não sabe quem é ele?
- Ah... o presidente?
- Que presidente?
- Ué... o dos Estados Unidos... não é o George Washington? (muitos risos meus).
- Não... você está louca? É o Barack Obama...
- Ah... é verdade... esqueci, como eu sou burra! (risos agora dela). Meu, posso te perguntar uma coisa? Sempre tive vontade mas tenho medo de rirem de mim...
- Pode falar... comigo não tem essa!
- O Barak Obama é parente daquele Obama Bin Laden?
- Afe... sorte que você perguntou pra mim... É Osama Bin Laden e eles não são parentes porque um é Obama e o outro é Osama.

Até tentei segurar a risada, em respeito a beleza das moças. Mas existe uma hora em que a espontaneidade dos fatos nos levam pra atividades do riso. Então, só posso dizer que, mesmo as nuvens tentando cobrir o sol pra que o ele não ouvisse tal conversa, ele se mostrou, com seus raios penetrantes contra o mar. Conversa à toa... Na praia e no verão brasileiro pode tudo...